Por seforutil.com | Publicado em 25 de novembro de 2025

Estudo inovador desvenda os mistérios do TDAH. Conheça as descobertas que podem transformar a compreensão e o tratamento desse transtorno.
Visão geral
É um mistério que persiste há décadas: o que causa o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)? Há anos, os pesquisadores sabem que a genética desempenha um papel significativo no desenvolvimento do TDAH, mas os mecanismos genéticos precisos permanecem obscuros. Embora muitas das variantes genéticas associadas ao TDAH tenham efeitos pequenos, a pesquisa mais recente de uma equipe internacional de cientistas descobriu algo mais profundo: variantes genéticas raras com alto impacto. Essas variantes raras, ao que parece, podem ser a chave para entender por que alguns indivíduos são mais propensos a desenvolver TDAH do que outros.
Em um estudo inovador liderado por pesquisadores do grupo iPSYCH da Universidade de Aarhus, cientistas identificaram variantes raras em três genes específicos — MAP1A, ANO8 e ANK2 — que aumentam drasticamente a probabilidade de desenvolver TDAH. As descobertas, publicadas na revista Nature, revelam que indivíduos portadores dessas variantes genéticas raras podem ter até 15 vezes mais chances de desenvolver o transtorno. Essa descoberta pode não apenas reformular nossa compreensão sobre o TDAH, mas também abrir novos caminhos para tratamento e intervenção.
O papel oculto dos genes raros
Embora o TDAH seja reconhecido há muito tempo como uma condição altamente hereditária, a complexidade de suas raízes genéticas tornou sua solução um enigma difícil. No passado, pesquisas identificaram milhares de variantes genéticas que poderiam aumentar ligeiramente o risco de desenvolver TDAH, mas nenhuma havia demonstrado um efeito drástico. Isso até agora. De acordo com as descobertas da equipe, quando essas variantes raras aparecem, elas têm um efeito forte e disruptivo na função cerebral, particularmente nas células nervosas envolvidas na regulação da atenção, do controle dos impulsos e da motivação.
“Agora podemos, pela primeira vez, apontar genes muito específicos nos quais variantes raras conferem uma alta predisposição ao desenvolvimento de TDAH”, afirma o professor Anders Børglum, autor sênior do estudo. “As variantes identificadas muito provavelmente têm um efeito altamente prejudicial sobre os genes e nos mostram precisamente quais genes e mecanismos biológicos fundamentais podem ser afetados.”
A importância desta descoberta não pode ser subestimada. Pela primeira vez, os cientistas têm um alvo concreto para investigar: genes específicos cujo mau funcionamento pode estar contribuindo para o desenvolvimento do TDAH. Não se trata apenas de descobrir marcadores genéticos para o transtorno; trata-se de compreender os processos biológicos que estão no seu cerne.
Mapeando os caminhos do desenvolvimento cerebral
Um dos aspectos mais intrigantes deste estudo é a forma como os pesquisadores combinaram dados genéticos com informações sobre como esses genes são expressos em diferentes células cerebrais. Sua análise mostrou que as variantes raras identificadas em MAP1A, ANO8 e ANK2 afetam principalmente a função de dois tipos de neurônios no cérebro: neurônios dopaminérgicos, que ajudam a regular a motivação e a atenção, e neurônios GABAérgicos, que desempenham um papel crucial no controle dos impulsos.
Esses tipos de neurônios são fundamentais para a capacidade do cérebro de regular o comportamento. É nesses neurônios que as raras variantes genéticas podem causar disfunções, o que potencialmente explica por que indivíduos com TDAH apresentam dificuldades de concentração, atenção e autocontrole. O que é ainda mais surpreendente é que esses efeitos não se restringem à infância; eles podem ser observados desde a vida fetal até a idade adulta.
“Nossos resultados corroboram a ideia de que distúrbios no desenvolvimento e na função cerebral são fundamentais para o desenvolvimento do TDAH”, explica a professora Ditte Demontis, primeira autora do estudo. “Também analisamos quais proteínas interagem com as proteínas codificadas pelos três genes do TDAH identificados e identificamos uma rede proteica mais ampla que também desempenha um papel em outros transtornos do neurodesenvolvimento, incluindo autismo e esquizofrenia. Isso nos permite compreender melhor as conexões biológicas entre diversos diagnósticos psiquiátricos.”
A descoberta de que essas variantes raras podem afetar a função cerebral desde uma fase tão precoce da vida é significativa. Ela sugere que as raízes do TDAH podem começar muito antes de a criança apresentar sintomas, oferecendo potencial para detecção e intervenção precoces.
O efeito cascata: como a genética influencia a vida além do TDAH
Mas o impacto dessas variantes genéticas raras vai além do diagnóstico de TDAH. O estudo também revelou que indivíduos com TDAH portadores dessas variantes genéticas de alto risco tendem a ter menor nível de escolaridade e status socioeconômico do que aqueles sem elas. Os pesquisadores cruzaram dados genéticos com extensos dados de registros dinamarqueses, o que proporcionou uma visão mais clara de como essas diferenças genéticas podem se manifestar no mundo real.
Jinjie Duan, pesquisadora de pós-doutorado envolvida no estudo, explica que “isso sugere que os indivíduos geralmente enfrentam maiores desafios cognitivos se tiverem TDAH devido a essas variantes genéticas raras, o que pode ter consequências educacionais e profissionais”. De fato, o estudo descobriu que os desafios cognitivos associados a essas variantes podem levar a uma redução média no QI de cerca de 2,25 pontos para cada variante rara de alto risco que um indivíduo carrega.
Essa descoberta lança luz sobre as implicações mais amplas do TDAH — como a genética pode influenciar não apenas a capacidade de um indivíduo de gerenciar a atenção e os impulsos, mas também seu desempenho na escola e no trabalho. Ela pinta um quadro mais complexo do TDAH, mostrando como ele pode ser mais do que apenas uma condição de saúde mental, sendo um fator que influencia os resultados educacionais e profissionais a longo prazo.
Um novo caminho para a pesquisa sobre TDAH
Esta pesquisa representa mais do que apenas um avanço na compreensão da base genética do TDAH; ela também pode ajudar a moldar o futuro do tratamento do transtorno. Ao identificar essas variantes genéticas específicas, os pesquisadores agora têm um caminho mais concreto a seguir no estudo dos mecanismos biológicos por trás do TDAH.
“Este estudo fornece uma nova e concreta direção para mapear os mecanismos biológicos envolvidos no TDAH, porque agora conhecemos genes causais com variantes de alto efeito”, diz o Professor Børglum. “Eles nos dão uma visão sobre alguns dos processos biológicos fundamentais que podem orientar o planejamento de estudos mecanísticos mais aprofundados — por exemplo, para identificar novos alvos terapêuticos.”
O que torna essa descoberta ainda mais empolgante é a promessa que ela representa para pesquisas futuras. Segundo Duan, “Estamos apenas no começo da descoberta dessas variantes raras de alto efeito. Nossos cálculos mostram que existem muitas outras variantes causais raras que podem ser identificadas em estudos ainda maiores. No estudo atual, já podemos apontar 17 genes adicionais com variantes raras que são muito provavelmente causais.”
Isso sugere que a área está prestes a vivenciar ainda mais avanços na pesquisa sobre TDAH, com o potencial de revelar muitas outras variantes genéticas de alto impacto. À medida que essas descobertas progridem, elas podem levar a tratamentos mais direcionados, talvez até mesmo a abordagens de medicina personalizada, para ajudar a controlar ou mitigar o TDAH com base no perfil genético de cada indivíduo.
Por que isso é importante?
A importância desta pesquisa não pode ser subestimada. O TDAH afeta milhões de pessoas em todo o mundo e, embora existam tratamentos, muitas vezes eles não abordam as causas principais do transtorno. Ao identificar as variantes genéticas que predispõem os indivíduos ao TDAH, os cientistas podem compreender melhor o transtorno em nível molecular, abrindo caminho para tratamentos que visam os mecanismos biológicos subjacentes, em vez de apenas controlar os sintomas.
Além disso, essa descoberta destaca a interconexão entre os transtornos mentais. O fato de as mesmas vias genéticas estarem implicadas no TDAH, no autismo e na esquizofrenia sugere que a compreensão de um transtorno pode fornecer informações sobre os outros. Isso pode levar a avanços que beneficiem indivíduos com uma variedade de condições do neurodesenvolvimento e psiquiátricos.
Em última análise, esta pesquisa oferece esperança para um futuro onde o TDAH — e outros transtornos do neurodesenvolvimento — possam ser melhor compreendidos, diagnosticados precocemente e tratados com mais eficácia. É um vislumbre de um mundo onde a ciência está desvendando os segredos do cérebro, um gene de cada vez.
Fonte: Sciencenewstoday.
